Querida, eu sei o que você está sentindo

 

Querida, eu sei o que você está sentindo.

Muitas noites de reflexão, muitos momentos de decepção, muito tempo sentindo cada vez menos amor pela situação em que se encontra. É muito tempo convivendo com sentimentos sem brilho, gestos sem carinho e olhares sem paixão. É muito tempo experimentando do veneno da mesmice, se enchendo da bebida amarga da rotina e se viciando na droga da falta de felicidade.

Um costume perigoso que parece cômodo quando nada mais nos resta a fazer. Como dizia um filosofo, “essa tristeza vicia e esse vicio só traz dor”!

Eu sei bem como se sente. Há anos atrás, éramos viscosos e cheios de alegria. Tínhamos não só o vigor da juventude, mas a beleza do amor vivendo em nossas almas e afetando e resplandecendo em tudo que fazíamos. Hoje somos adultos descontentes com nossas escolhas e insatisfeitos com os que nos cercam. Dedicamos nossas vidas a eles, mas não temos a mesma certeza de que eles se dedicam por nós. Ou ainda mais terrível, não sabemos mais se queremos estar ali.

O problema de não viver por inteiro é que não se dá chance ao sol que nos bate a porta todos os dias. Prostrados ao que nos abate, deixamos de reverenciar o que, ou quem, nos enche de vida. Algo que não te faz inteira, te deixa pela metade em tudo mais, inclusive no que mais te completa. Mas um dia, mesmo o que era vago e quase imperceptível, também se vai sem o regar de sua dedicação. Sem sua atenção, sem seu olhar, o pouco que tinhas e não valorizava, perde a força de lhe ser, de lhe ver e perceber. O que estava ali ao lado e você não tinha coragem de ver, se vai para longe.

E aí, estarás só novamente.

Sim minha querida, eu sei bem o que está passando. Eu fui lá, bem lá no fundo dessa angustia, vivendo o que de mais terrível havia pra presenciar: A dor da invisibilidade. O estar onde não se queria estar. O ser quem não se quer ser. Eu desci nesse canto escuro do mundo e eu tentei estar inteiro, mas minha metade pairava em outros montes. Eu sei bem o que está sentindo. Eu estava lá e talvez nunca tenha saído, apenas me acostumei a estar assim… o que é ainda mais triste.

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